sábado, outubro 08, 2005

Acto de Amor











Alguém me enviou este texto... belissímo e para pensar...

3.30h da manhã. Acordo de repente com uma sensação estranha no corpo… E lembro! Ai… depressa! Ai que desta vez não chego a tempo! Visto-me o mais rápido possível e zás lá vou eu!
3.45h. Ainda cheguei a tempo! Vêm as perguntas do costume… E eu só digo: Olhe que isto não está para perguntas! Mandam-me passar para uma sala e despir-me (pelo canto do olho vejo uma “colega” já deitada à espera).
4.00h. Afinal foi mesmo a tempo! O meu bebé chegou…
12.00h. O meu bebé foi internado na unidade de neonatologia e eu claro, estou com ele. Oiço uma campainha. Mais um bebé a caminho, penso para mim, sorrindo.
Nisto vem a Enfermeira com uma bebé acabadinha de nascer…
Diz para outra: E agora que faço? A mãe não a quer…
Olha, a primeira coisa é dar-lhe um nome, como foste tu que a trouxeste "baptiza-a” tu.
Ok, fica… Madalena!
14.00h. Volto ao meu quarto, estou cansada. Na cama ao lado vejo a minha "colega”. Sorrio para ela e pergunto: Está tudo bem?
Não muito… a bebé teve que ser transferida… não estava bem… Mas você nem o lugar aqueceu!
Penso para mim: Algo não bate certo… Até que "se me fez luz”! A bebé dela é a Madalena!
Não questionei nada, mas pensei… pensei em muita coisa…
Volto para o meu bebé… A Madalena lá está, num berço sem ninguém para lhe dar colo. Nisto, chora. Pego-lhe ao colo e ela acalma. Sou repreendida: Não pega noutro bebé que não o seu! Pode transmitir doenças e depois, essa bebé não se pode "apegar” a ninguém! Pensei muito seriamente que não tinha ouvido bem… Não se pode "apegar”?? Então e tudo o que se sabe sobre a psicologia do desenvolvimento? Onde está o que é preconizado por Erikson e Bowlby sobre as fases de confiança versus desconfiança e apego versus perda?
Volto à cama e à minha "colega”. Fala-me da Lúcia… das suas preocupações com ela, das consultas e ecografias que fez durante a gravidez… Aí entendi… A minha "colega” amava a Lúcia/Madalena, mas por algum motivo não podia ficar com ela…
18.00h. A minha "colega” pede alta. Diz ter que sair para ir ter com a Lúcia… É-lhe dada a alta não sem antes ouvir um resmungo tipo "nem devia ter sido mãe” Não quis ouvir mais… virei-me para o outro lado.
Mas pensei: "A minha "colega” está a sofrer… quer sair daqui para fazer o seu "luto”… quer sair para não vacilar na sua decisão, sabe que a Lúcia/Madalena está ali, a um passo dela… Mas por algum motivo não pode ficar com ela!
E fiquei com uma certeza: A minha "colega” mais do que qualquer outra mãe teve um acto de AMOR! Por algum motivo não podia ficar com a sua bebé, mas com a sua atitude estava a AMAR a sua bebé!
Volvidos quase 6 anos ainda penso na Lúcia/ Madalena e no acto de Amor da minha "colega”…