segunda-feira, outubro 24, 2005

Mães Coragem

Ao ler um artigo no DN de hoje encontei um artigo sobre mães coragem que passo a transcrever... e no encalço vou deixar também um texto que Alguém me enviou e que não deixa de ser também um acto de uma mãe coragem... Realidades diferentes, mas com sentires comuns...
"A vida das mães-coragem
Deserdada

No dia em que os pais descobriram que se dedicava à prostituição, Sílvia, chamemos-lhe assim, deixou de ser filha". Aos 24 anos, a jovem diz que entrou nesta vida porque "o dinheiro quase não dá para nada". Sílvia "sabia que não ia ser fácil, mas precisava de dinheiro para sustentar o filho", e procurou no trabalho sexual "uma vida desafogada". A jovem recorda o tempo em que o dinheiro não chegava para o dia -a-dia, mesmo com o horário na fábrica, e ainda as horas que dedicava a fazer "limpezas". "DN 24.10.05
"2 de Abril de 2004

Final de um dia de trabalhado. Estou a despir a bata e nisto aparece-me uma Mãe.
R. preciso de um favor seu…
Sim? O que se passa?
Sabe… Precisava de saber, se lá onde mora, há alguém que…que…que…, sabe…”desmanche”, mas que seja baratinho, percebe?
Percebi. Percebi o que implicava o ser “baratinho”. Percebi que a qualquer lado estava disposta a ir, sem saber em que condições, porque não podia vir mais um…
Sabia em que condições vivia. Sabia que a sua casa era uma pocilga. Sim, pocilga mesmo! Adaptada (o melhor que se pode), de uma só divisória com 2 adultos e 2 crianças a viverem lá. Sabia que o que comiam era o que a terra lhes dava. Sabia que muitas vezes iam todos para a cama com um copo de água no estômago “para enganar a fome”. Sabia que muitas das vezes em que lá fui me abria a porta mas sempre a dizer: “Tem que ser rápido antes que “ele” volte. Sabia que muitas vezes passava e repassava a roupa dos filhos para ver se ainda durava mais uns tempos… Sabia o que significavam as nódoas negras que tantas vezes trazia no corpo…
Disse-lhe: Não se preocupe, não sei mas vou saber. Tem quanto tempo?
Uma falta…
Vim para casa e fiquei a pensar…

7 de Abril de 2004

Vou a casa dela. Abre a porta e pergunto-lhe: Preparada?
Já? Não tenho o dinheiro…
Não se preocupe, tenho aqui o que é preciso e vamos ficar as duas, à espera.
Comprimidos? Pergunta-me com um olhar muito arregalado.
Estes vão fazer o que queremos, digo-lhe.
Preparamos tudo e ficamos à espera.
Vem as primeiras dores, depois as hemorragias. Pego-lhe na mão, faço-lhe umas festas e ela sorri-me… somos cúmplices, companheiras neste segredo…
Dias mais tarde fomos ao médico, estava tudo bem.
Depois fomos marcar consulta de planeamento familiar.

Ainda hoje me pergunto: E se não tivesse corrido tudo bem?

Nunca mais a vi. Mas todos os meses, ao sétimo dia, me envia uma sms a dizer: Nunca a esquecerei…" Alguém