sábado, outubro 29, 2005

O Di e a sua Educadora












Um texto da Educadora

Quarta-feira. Saio mais cedo, o Di não apareceu. Ontem tinha umas manchinhas estranhas na pele. Fiquei apreensiva e desejosa de chegar a casa para poder telefonar a saber o que se passava.
Bolas! Não encontro o número!
Telefono para a equipa. Daí a pouco chega uma chamada: Vai para o Hospital, o Di foi internado.
Por momentos entrei em pânico… Voltei atrás vários meses. Não era a primeira vez que recebia uma chamada daquelas. Rapidamente pus pernas ao caminho e a minha cabeça dava voltas e mais voltas com as recordações dolorosas. Tinha exactamente 10 minutos para me recompor e acalmar, afinal ia para dar apoio e não para receber.
Chego à Pediatria e dizem-me: Por aqui? Quem tens cá desta vez?
Respondo: O Di, entrou á pouco.
Ah! Está lá ao fundo.
Passo pela sala de enfermagem, espreito. Bem, menos mal é a J. que está de serviço.
A J. vê-me. Aqui? Ó rapariga quem é agora?
O Di… Ela percebe a minha angústia e diz-me: Calma, não é grave. Desidratou porque não bebe nem come, para já é uma estomatite aftosa.
Respondo-lhe: J., o ano passado sabes como foi… Entraram dois e não saíram mais…
Tem calma, este não é grave, vá vai lá que a mãe está à tua espera.
Dirijo-me ao quarto do Di sem olhar para os outros quartos e berços. As lembranças não me largam…
Chego ao pé do Di e da mãe. Estava com soro, rabugentinho e a choramingar. A mãe estava completamente prostrada, com um olhar distante e vazio.
Como conheço aquele olhar… Pensei para mim.
Falo com o Di digo-lhe que tinha estado à espera dele com a bola e a mala das ferramentas, tento brincar com ele. Mas dele só sai: Uti, nam, dói.
Dois sentimentos vieram ao de cima: Surpresa e dor. O Di disse o meu nome! Mas estava mesmo muito queixoso. A mãe só dizia: Não consigo que coma nem beba…
Calma, disse-lhe, vamos tentar.
Tiro o Di da cama, ponho-o no meu colinho e deixo-o brincar com o meu telemóvel (adora). Depois aos poucos, meio distraído, lá vai bebendo uns golitos de água. Vou conversando com a mãe, tentando perceber até aonde vai a sua angústia. Um ano antes tinha perdido ali mesmo uma filha com uma sepsis.
Vou-lhe explicando que o que o Di tinha não era nada disso, que estava tudo controlado, que ia correr tudo bem. Entretanto o Di adormece e a mãe acalma. Despeço-me e telefono para a equipa que está em stand-by.
Saio mais aliviada, o Di vai ficar bem. Consegui aparentar calma sem demonstrar os meus medos, dar apoio, fazer sentir que “estou cá”… Mas não consegui afastar as minhas lembranças dolorosas…




3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Pouco dás quando dás algum dos teus bens; é ao dares algo de ti mesmo, que verdadeiramente dás.

beijinho :)

sioux

domingo, outubro 30, 2005 4:30:00 da tarde  
Blogger Momentos said...

E para que se conste soube hoje pela EDUCADORA que o Di já saiu do hospital... Um beijo ao Di... :-)))

domingo, outubro 30, 2005 7:26:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Saiu sim :-) mas ainda está muito rabugento e sem dormir. Mas pronto, o susto passou. Obrigada pelo Di.

Sioux sempre com palavras lindas
:-)

domingo, outubro 30, 2005 9:25:00 da tarde  

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